quarta-feira, outubro 25, 2006

Para o Nazareca..

Seguindo o apelo da amiga Maria de São Pedro do blog luadoslobos.blogspot.com fui até Quiaios oferecer a minha ajuda no centro de recuperação da vida selvagem. Pertencente à SPVS – Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem www.socpvs.org, recebeu à pouco mais de um mês um golfinho recém-nascido (espécie baleia-piloto), o Nazaré.

As circunstancias em que deu à costa na Nazaré (daí o seu nome de baptismo) são desconhecidas, podendo ter sido abandonado, a mãe ter morrido ou simplesmente ter-se perdido. Circunstâncias à parte, era necessário ajudá-lo na sua luta pela sobrevivência. É o que vai sendo feito em Quiaios, perto da Figuera da Foz, pelos biólogos responsáveis e todos os voluntários que vão dando o seu contributo por turnos, 24 sobre 24 horas.


Quem quiser saber mais e/ou ajudar, visite: Ele
Poder ajudá-lo é gratificante...mas poder tocá-lo é qualquer coisa que nos deixa drogado. Dava-me para rir. Por vezes assusta pois fica muito tempo debaixo de água sem respirar, de barriga para cima, e deixa-nos na duvida se está bem e se só quer mesmo festas e mimos.
Quando é contrariado faz birras e emite sons deliciosos. Continua ruim para comer...

O "pequeno" "Nazareca" é uma prova viva da sensibilidade desta espécie e de tantas outras suas similares. Falar dele é também falar dos seus tios adoptivos Paula, Jorge e Marisa, sempre presentes!

O seu futuro
Vindo dar à costa de uma sociedade economicista, o futuro do Nazaré poderá passar por aquela que é a mais rentável das soluções, o jardim zoológico de Lisboa. Infelizmente a sua devolução ao meio selvagem implica vontade de todas as partes, e investimento nele. Teria de ser ensinado, teriam de se lhe dar condições, teria de haver intercâmbio com outros países, com outros elementos da sua espécie. Mas ele é o único da sua espécie em recuperação na Europa por isso mantê-lo em cativeiro é tentador e pode vir a ser rentável.

Não quero emitir juízos de valor, gosto do conceito de conservação em que o animal é recuperado e devolvido ao seu meio. Se não for possível, que ele seja tratado como merece e que consiga ser feliz.

O nosso futuro
Portugal podia ser grande. Podia ser enorme. Pioneiro na recuperação e no estudo das espécies marinhas que vão habitando e morrendo nas nossas costas, uma das maiores da Europa.
Infelizmente tenho que dizer que apesar de toda a qualidade e entrega dos Biólogos e responsáveis pecamos pelo amadorismo, pela boa vontade das pessoas, pelo desenrasca.

Como é possível não investir em pessoas e instalações realmente capazes de fazer ciência, de estudar, evoluir e mostrar ao resto do mundo que o caminho do conhecimento passa por explorar, por aprender e entender como fazer, por arriscar, como os nossos antepassados fizeram na descoberta do novo mundo quando se lançaram em pequenas caravelas além-mar.
Mas as prioridades sempre foram outras, falar nelas para quê? Venham os automóveis topo de gama, os submarinos, os centros comerciais, os estádios de futebol..e com tantos mundos ainda por descobrir..



quinta-feira, outubro 19, 2006

Apaixonante..

É a mais amigável e confiante das raposas da América do Norte, embora costumem defini-la... como "atrevida", escreveu o naturalista Barry Lopez. No Inverno, estas pequenas raposas percorrem enormes distâncias em busca de carcaças. Algumas percorrem mais de mil quilómetros sob temperaturas que rondam 40º C negativos.
A espécie expandiu-se no Árctico no final do último período interglaciar quente, há cerca de 120 mil anos. A evolução dotou-as de orelhas pequenas, focinho curto e pêlo espesso para minimizar a perda de calor. As suas patas estão cobertas de pêlo, como as das lebres – razão do seu nome científico, Alopex lagopus, ou "raposa com patas de lebre".

Alimenta-se praticamente de qualquer animal, vivo ou morto. Tem preferência por pequenos mamíferos, mas tambem come insetos, frutas, carniça, e todo tipo de restos alimentícios deixados pelos homens. Geralmente, sua dieta de inverno inclui invertebrados, pássaros marinhos, peixes e focas. As populações que vivem mais no interior, têm uma dieta rica em lemingues. Durante os meses de verão, quando há mais alimentos disponíveis, a Raposa do Ártico costuma armazenar comida em seus esconderijo para usar mais tarde.

Saber que o inevitável degelo alterará a biodiversidade do Ártico cria já uma sensação de vazio. Mas como já alguem disse "raposa velha não fica presa no laço". E tamanha beleza tambem não pode ficar.

segunda-feira, outubro 16, 2006

VUP- 5 - Gonçalo Ribeiro Telles

Gonçalo Ribeiro Telles Professor catedrático da Universidade de Évora, ex-ministro de Estado e da Qualidade de Vida, fundador do Movimento Partido da Terra, arquitecto paisagista.

o que diz..
"A grande causa é um mau ordenamento do território, ou seja, a florestação extensiva com pinheiros e eucaliptos, de madeira para as celuloses e para a construção civil".

"É muito bom para as celuloses e muito mau para as populações e para o País, que está devastado. O mundo rural foi considerado obsoleto, como qualquer coisa que vai desaparecer. Veja-se o disparate que foi a política de diminuição dos activos na agricultura. Contribuiu para o aumento dos subúrbios, dos bairros de lata, da emigração. Trouxe alguma coisa melhor para a província? Não. Apenas um grande negócio para as celuloses e para os madeireiros".

"Houve toda uma política de desprestígio do mundo rural tendo por base a ideia de que era inferior ao mundo urbano. Despovoámos os campos e essa gente toda veio para a cidade. Hoje, enfrenta o desemprego. Esqueceram-se que o homem do futuro vai ser cada vez mais o homem das duas culturas, da urbana e da rural".

"Os presidentes das câmaras gastam milhares de contos em parques. Entusiasmam-se com catálogos, muitas vezes desenhados por curiosos e até por irresponsáveis. Agora é a moda das palmeiras e dos repuxos, com água a subir e a descer. É o chamado repuxismo!".

"Por que é que estão a despejar as escolas? Não há crianças. É um círculo vicioso. É provocado pelo modelo económico, que não é um modelo de desenvolvimento. Quando se fecha uma escola, a região é mandada para o “galheiro”. Não tem gente, porque puseram lá uma monocultura. A população não fica lá “a ver crescer o pau” que ainda por cima não é deles".

"O parque da Gulbenkian é um jardim para ser pisado, onde se pode olhar para o chão e contar sapos, ver pássaros. É um jardim de cenários que se sucedem, com luz e sombras, que se vê passeando, zonado e compartimentado. Enfim, bom para namorar".

"A paisagem quer dizer país, região + agem, agir, ou seja, agir sobre a região. Quem age sobre a região, é o Homem. A paisagem é uma construção humana, feita, fundamentalmente, com materiais vivos. Há cerca de 50 anos, o que era contínuo na paisagem era o sistema natural. Tudo isto era uma paisagem, onde o sistema natural dominava, e era contínuo. As cidades eram pontos nessa continuidade de espaço natural, agrícola, florestal, de pastagens ou abandonado. Hoje, é exactamente o contrário, o contínuo na paisagem é o construído, e o pontual, é o que resta de agricultura, de espaço livre, que passou a ser descontínuo".

quinta-feira, outubro 12, 2006

VUP- 4 - Luisa Schmidt

Luisa Schmidt
Socióloga, jornalista, fundadora do Observatório do ambiente, assistente de investigação do Instituto de ciências sociais da universidade de Lisboa.

o que diz..
"As questões do ambiente surgiram por via da minha actividade jornalística.Durante bastante tempo tratei da área da defesa do consumidor no Expresso,e o ambiente era como que o reverso da medalha da sociedade de consumo em que estávamos a viver".

"A poluição dos recursos hídricos continua e o problema do desordenamento tem-se agravado exponencialmente.Por outro lado, espanta-me a ausência de continuidade nas políticas. Há uma interrupção constante em qualquer tipo de política, que não cria memória e que acaba por originar problemas maiores.Desperdício de dinheiros e fundos investidos sem fiscalização sobre o investimento".

"A ideia de que as pessoas sozinhas não podem fazer nada é um equívoco, porque elas sozinhas podem criar movimentos.Há um fundamentalismo do betão e do desmazelo que é fatal ao país".

"por incrível que pareça, num país com as potencialidades ambientais que este tinha, e generosamente regado por subsídios comunitários nos últimos 20 anos, o ponto de situação das nossas Áreas Protegidas é lastimável.Pilhadas pelas supostas "elites" sociais e políticas, e desleixadas por uma população que tarda a ultrapassar a sua iliteracia ambiental, as áreas vivem como uma esquadra mal armada cercada por gangs".

"Agora que a pobreza voltou a ser de novo a condição real do país, as áreas protegidas eram pelo menos uma esperança e um património.Em vez de se fazer delas um desígnio colectivo nacional, entregam-se a uma trapalhada burocrática que, de tropeção em tropeção, as arruinará".

"A política da água é um escândalo: o Liz e o Ave demonstram-no à saciedade. É urgente criar informação séria, sistemática e cruzada.Não há um sistema de bases integrado que leve as pessoas a tomar decisões eficazes.Tem que haver cruzamento de informações e de dados para não haver decisões baseadas em critérios diferentes que ora favorecem uns ora prejudicam outros.E aqui os media tem responsabilidade, porque, até agora, o ambiente não parece ter sido conteúdo que atraia audiências".

"O resultado é que se o Zé constrói, o Manel também quer construir.O processo torna-se imparável(...) transformou-se em pura «carne» para betão.O problema é que esta «carne» é de vacas loucas e quem lá vai adoecer é a capital e é o país".

"É preciso, se calhar, algo mais importante: que o país acorde da ilusão de que está constituído desde o século XII, e comece a tornar-se naquilo que não é: um Estado moderno, aberto e leal".

quarta-feira, outubro 11, 2006

VUP- 3 - Francisco Petrucci Fonseca

Francisco Petrucci Fonseca
Investigador, professor universitário na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, membro da fundação do Grupo Lobo e do centro de recuperação do lobo ibérico.

o que diz..
"Vi o primeiro lobo na serra da Estrela quando era miúdo. Vinha no banco de trás do carro e os faróis focaram um vulto. Pareceu-me um cão, mas era um lobo. Entristece-me que já não existam lobos na região".

"O êxito de uma estratégia de conservação passa pela cooperação com o poder político que, na opinião do investigador, não existe. "Cabe ao biólogo o papel de motor da conservação, empurrando as carruagens para a frente. Mas o comboio tem de seguir o seu movimento próprio".

"Ao mesmo tempo que a maioria dos cidadãos se capacita que as extinções da águia-pesqueira, do lince ou do lobo serão perdas terríveis, pergunto-me se conseguimos mudar a percepção de quem decide. Creio que a resposta é negativa, porque continuo a ver atropelos ao nosso trabalho e diversos exemplos de mau ordenamento do território".

"O censo que acabou de ser feito e está para ser publicado mostra que existem cerca de 300 lobos em Portugal".


"um parque nacional não é um jardim zoológico como na maior parte das pessoas pensa. Têm de compreender o ecossistema. Não posso ir para o parque e ver os lobos a correr, aos pulos, até porque a vegetação aqui é diferente e esconde os animais. Mas gostaria que fosse possível lançar o projecto já em 2006 como forma de chamar a atenção às pessoas para o lobo e para a conservação da espécie".

"Para se apreciar uma espécie, é preciso conhecê-la e dá-la a conhecer. Foi essa a génese do Grupo Lobo e do Centro de Recuperação do Lobo Ibérico".

terça-feira, outubro 10, 2006

VUP- 2 - Daniela Teixeira

Daniela Elisabete Nicolau Teixeira

Geóloga, Alpinista
Primeira alpinista portuguesa a atingir o cume de uma montanha com mais de oito mil metros de altitude. Lutou e venceu atigindo um cume "8000" (o Cho Oyu , a "deusa da turquesa" com 8201m.

A Daniela optou por custear a expedição na totalidade, afastando-se do caminho “tradicional” com base nos patrocínios. E, se é verdade que subiu integrada numa equipa filipina, atingiu o cume em solitário, depois de os companheiros terem desistido do seu objectivo.

O que diz..
"Estranhamente, desta vez não foi tão fácil largar o nosso pequeno país".

"Entre a chegada ao hotel e o jantar fiz um pequeno reconhecimento a Thamel: rapidamente me recordo dos seus cheiros a incenso e especiarias. O jantar… bom, foi a vingança! Encontrei cinco portugueses num restaurante de “lamber as beiças” e como se isso não bastasse, regaram­‑se as delícias culinárias com um belo tinto. Acabamos a noite num bar com música ao vivo e ainda nos demos ao luxo de beber uma caipirinha! Até parecia Portugal! Escusado será dizer que, depois de dois longos dias, dormi como um anjinho. Um belo início de aventura!"

"Depois passei novamente entre as ruas da Thamel, trocando conversas curiosas com este ou aquele comerciante. Se há algo que se desenvolve muito mais quando andamos por estes sítios desacompanhados é a troca de palavras, de experiências, com quem vamos conhecendo".

"Quando vimos o material de que dispomos é que nos apercebemos realmente da situação: o que é uma expedição low budget! As tendas do Campo Base são fracas, a tenda comedouro é pequenina e as cadeiras completamente inadequadas para passar tanto tempo no Campo Base Avançado. É terrivelmente difícil aguentar estas condições e o corpo começa a ressentir-se…"

"fiz-me ao caminho com um “armário” de 20 quilos às costas. No caminho senti-me feliz, ao ver que o meu ritmo não era muito diferente de quem ia mais ligeiro. Tive de constatar que afinal sou um caso raro por estes lados… Os alpinistas costumam contratar um sherpa ou pagam a qualquer tibetano para lhe carregarem equipamento até ao Campo 1".

"As cinco horas que separam o Campo 1 do Campo 2 foram vividas com uma motivação do tamanho do mundo. Resultado, fui sorrindo com as recordações que trazia na mochila…"

"a troca de emoções, a partilha de motivação pelo que ambos gostamos de fazer e a conversa, que durou longas horas noite dentro, foi algo que me deu muito alento. Poderia perder mil palavras a falar de Ivan, mas vou guardá-las só para mim".

"O céu abriu e deu lugar a amplas vistas e sinto falta… Sinto falta de partilhar este momento com quem realmente gosto".

quinta-feira, outubro 05, 2006

VUP-1 - Ricardo Serrão Santos

Há os VIP's (very important person), seja lá isso o que for, e para mim os VUP's - very usefull person. Porque mais que ser importante é importante ser util.

Ricardo Serrão Santos Biólogo, fotógrafo subaquático, mergulhador, presidente do instituto do Mar e director do departamento de Oceanografia e pescas da universidade dos Açores.

O que diz..
"estamos interessados em estudar processos (...) de organismos que evoluiram em condições extremas de ambiente fisico e que dependem em grande parte das capacidades quimio-sintéticas de bactérias simbiontes. O estudo dos processos de vida nestes ecossistemas poderá estender a nossa compreensão da origem da vida".

"estamos a trabalhar num programa de ocean tracking de grandes predadores do atlântico (aves, cetáceos, tartarugas, tubarões, atuns..) que está a ser dinamizado no âmbito da iniciativa Census of Marine Life (censo da vida marinha)".

"Portugal vive envergonhadamente de costas para o mar..a estratégia nacional para os oceanos parece estar adormecida".

"O cientista tem uma dupla obrigação: descobrir e revelar. Mas tambem deve ser um militante da conservação, pois conhece melhor do que os outros a essência do problema.

"ao longo dos anos aprendi que a natureza tem muito mais imaginação do que a ficção dos homens!".