terça-feira, maio 27, 2008

Chief Joseph.. hoje mais verdade que nunca


"Não são precisas muitas palavras para falar a verdade"

quinta-feira, maio 15, 2008

Um Lobo da escrita..

"Perguntas sobre perguntas acerca de mim mesmo e a angústia do sentido da vida e da forma como me relaciono com ela. O que posso fazer, o que devo fazer? Há um livro a sair agora, trabalho noutro: e depois? Que significa isso para mim? Os meus defeitos aparecem-me de forma muito clara e dolorosa. Não só os meus defeitos: as minhas insuficiências, os meus erros. Sempre imaginei que um livro resgatava tudo: não resgata. E no entanto continuo a escrever, como se esse acto contivesse em si a minha salvação. Sei bem que chegará um tempo em que apenas os livros hão-de contar porque eu, enquanto pessoa, não tenho importância alguma, às vezes nem para mim mesmo. Vou-me olhando de forma cada vez mais distanciada e sem indulgência. A impressão, melhor: a certeza de haver falhado. O quê? Não estou deprimido, não me sobra tempo para depressões, sou apenas um homem, diante do seu espelho interior, que não gosta do que vê. O que poderia ter feito? O que deveria ter feito? Esta permanente tortura que a gente disfarça. A ideia recorrente que aquilo, quer dizer que a única coisa que a vida nos dá é um certo conhecimento dela que chega tarde demais, sempre tarde demais. Grandes cães pretos que se entredevoram dentro de mim. Estas crónicas têm-se tornado, cada vez mais, um itinerário paralelo aos livros. Do ponto de vista da Arte recebi muito mais do que poderia ter desejado e no entanto trago as mãos vazias. Agora dei duas entrevistas, coisa que nunca deveria ter feito. Não ponho em causa a competência ou a honestidade dos jornalistas mas não me revejo em nada daquilo. Não sou assim e não sou capaz de exprimir o que sou. Os livros falam muito melhor do que eu.

O que aparece nos jornais é um estranho e até as fotografias são mentira porque não me pareço comigo. Acho-me cansado desses jogos. Apetece-me desaparecer atrás das palavras, ser de facto o ninguém que sou: um nome apenas, numa capa. E deixar o resto para mim, dado que não tem nenhuma importância colectiva.

Agora é manhã e está sol. Nenhum ruído à minha volta. Se eu pudesse passar a vida a limpo, como diz o Drummond, corrigia quase tudo. Que pena não podermos emendar os dias, o que fizemos, o que somos. Um demónio qualquer distorceu-me tudo ou fui eu quem distorceu tudo? Acabando esta crónica retomo a correcção do livro na esperança de, ao emendá-lo, emendar-me. Fui sempre honesto a escrever. E nas outras coisas?(..)".

António Lobo Antunes

quinta-feira, maio 08, 2008

Assim te vejo..

De contrastes.
De belezas distintas que acompanham os momentos.
Feita de diferenças.
Feita de uniões
de delicadezas e brusquidões.
De silêncios e de ruídos.
De ausências e de sorrisos.
Nem sempre presente,
nem sempre distante.
Ora selvagem
ora rural
Ora deserta
ora social.
Gélida e fogosa
Colorida e desbotada
nunca perdida nunca encontrada.
Bella.

Assim te vejo. Assim vejo a Sardenha.