segunda-feira, julho 24, 2006

AINDA VIVO

Numa semana em que mais dois linçes ibéricos morreram atropelados na estrada espanhola A-483 que liga Almonte a Matalascanhas (Huelva), a descrença começa a ganhar vantagem à esperança.

Por isso queria dedicar o texto em baixo, de alguem que sentiu há mais de 25 anos, aquilo que alguns continuam a sentir actualmente. Podem nunca chegar a lê-lo mas aqui está ele para
todos os nossos ministros do ambiente, primeiros ministros, presidentes, empresários e industriais, professores e jornalistas, ideólogos e gente comum, que deixaram o nosso Linçe Ibérico morrer silenciosamente.
A quem levantou e ainda levanta a voz...Obrigado, Gracias.

"Despachem-se. Saúdem-me antes que reste de mim apenas a lembrança. Leva-me, a galope, o esquecimento a que tudo hoje se destina. Quero dizer que me escapo mais rapidamente do que os vossos desejos.
Nada deterá a minha ida até à segura guarida da morte? Não porão a tempo nenhum obstáculo à minha corrida até à recordação? E se toda a ausência é ruína?
Como e quando acabará o extermínio? Se hoje ainda me encontram, mais provável em vitrines que no meu lugar de verdo espesso, amanhã pode ser tarde.
Só na memória de poucos estarei então, definitivamente indefeso como esses diminutos pássaros migrantes que são alcançados por uma tempestade em alto mar, e lhes ataranta a brusca caída das àguas do céu, precipitando-se espectantes, para abraçar as suas irmãs do oceano...
Mas viver na recordação não me consola pois isso tambem é morrer.
Não há evocação suficientemente grande.
Ainda assim, nestes poucos dias que me restam, ocupo-me a olhar para trás, para o tempo passado, quando havia sitio para todos e isto estava repleto de sons, de cores e cheiros...que acompanham a saúde da terra.
Ânsia desde logo, pela vossa ausência. E por isso espero devolver-vos o sentimento. E ao contrário, quero imaginar, que por uma vez, arrependidos a tempo, o vosso calor golpeia a terra humida e nós ressuscitamos.
Algo teria de mudar, como estas palavras de agora, como este gritar vossos nomes, até afogarmos na penumbra que tudo desvanece.
Têm de travar este imenso mal crispado! Têm de socorrer tudo o que se agita nos últimos charcos de chuva: pois a maioria somos já peixes encurralados pela séca chamada progresso!
Nisso penso, como todos os sentenciados, para poder suportar os últimos instantes.
Mas sei que me extingo.
Até logo então...

O LINÇE "
Texto do espanhol Joaquim Araujo (1980)


6 Comentários:

Blogger Lâmina d'Água & Silêncio disse...

Só o homem não morre...

Esse é mesmo uma grande praga!!!

E... Como pode ser tão lindo??? É o bebezinho com a carinha mais adorável do mundo... É apaixonante e não sei mesmo como não se emocionam ao ver uma criatura tão linda dessas!!!

Eu sei... Homens não se emocionam com animais e nem perdem tempo com eles e os que se emocionam, não são respeitados e nem ouvidos, por serem um número muito reduzido. Por essa razão esses animais continuarão sumindo...

Triste.

Beijinhos!!!
Cris

1:51 da tarde  
Blogger teresa g. disse...

Belíssimo texto! Acho que desta vez não concordo com a Cris, nós também somos peixes encurralados pela seca do progresso. Só não somos os primeiros a desaparecer. E também não percebemos que já começámos a morrer.

12:30 da manhã  
Blogger Lâmina d'Água & Silêncio disse...

Para a Jardineira...

Concordo que estamos no processo acelerado da moret, mas ainda assim, continuamos a destruir, como se não fosse possíevl, o fim. E me referi ao homem, no sentido de que ele parece crescer em quantidade avassaladora e a tomar mais e mais espaços e a se achar proprietário único dos territórios... A morte humana, acontecerá de fato, mas em razão de seus próprios atos. E a deles??? Irão antes do homem. Muito antes, como muitos da lista dos desaparecidos e em vias de extinção e isso acontece sob a responsabilidade do homem. Enquanto ele cresce em quantidade, destrói o meio e desrespeita a cadeia natural da vida, ele ainda se mantém sobrano, a despeito da morte certa que virá com o tempo.

Na verdade pensei e escrevi pela metade, no post anterior. Espero ter podida ser mais clara agora, coisa que nem sempre realmente, por não saber usar muito bem as palavras e também por transcrever meus pensamentos, por vezes um tanto abstrato, para o concreto.

Beijinhos a ti e ao Hugo!!!
Da Cris

12:51 da manhã  
Blogger Lâmina d'Água & Silêncio disse...

Corrigindo:
Leia-se MORTE, no lugar de moret...

Mais erros de digitação,impossível, mas enfim, melhor esses do que outros!!!

Beijos!!!
Cris

12:52 da manhã  
Blogger Marlene Koch disse...

Até aqui deixei minhas lágrimas. Acho que estou me comovendo demais ultimamente. Talvez mágoa por ver que o mundo não levanta uma bandeira para deixar em paz a natureza e viver de bem com Deus.
Vc ama os animais como eu amo? -doi né guerreiro.. dói fundo na alma a luta deles pela não extinção da especie. Quando o último lince for caçado.............................

6:43 da tarde  
Blogger Ivo Rodrigues disse...

Saudações Alentejanas !!!

Quando li esta postagem fiquei ……….. com “pele de galinha”, como é possível não haver nenhuma sensibilidade no ser humano para com este animal !!!!

Eu vivo ao que parece perto do último local onde foi detectado o lince ibérico em Portugal, (Serra de Ficalho-Alentejo), sou um fotógrafo amador da natureza e criei um blog sobre a fauna e flora da Serra da Adiça.

É um dos meus sonhos ………………… fotografar um lince ibérico, ……………. Infelizmente estou a pensar tirar umas feria para Espanha para poder concretizar o meu sonho.

Se poder visite o meu blog, penso que já tenho lá algumas plantas que estão em vias de extinção, como a Rosa Albardeira, o Narcissus papyraceus, a Tulipa silvestre e algumas orquídeas. Tudo existente na Serra da Adiça – Baixo Alentejo.


Haja saúde !!!

12:09 da tarde  

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